A AMPULHETA E A BÚSSOLA, por Gilmar Cardoso.
“Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria” – (Salmo 90:12)
Parto feliz rumo à eternidade. Morrer é ser esquecido. O poeta Mário Quintana foi assertivo ao eleger para sua lápide a inscrição – Eu não estou aqui! –
Aos que entendem ser necessário deixo-lhes o irrestrito perdão e aos que por ventura magoei-lhes rogo a mesma prece de misericórdia para apagar o pecado.
A vida é uma passagem fugaz, um breve espaço de tempo entre o berço e a sepultura. Neste intervalo temos a oportunidade das escolhas livres e conscientes. Portanto, vigiem, porque vocês não sabem o dia nem a hora (Mt 25;13) e neste caso, em face da finitude, somos efetivamente o tempo que nos resta.
Nascer ou morrer não é uma escolha pessoal como a opção da vida terrena e de como optamos passar este tempo entre as colunas do universo. Se olharmos para a maneira como edificamos nossos planos, objetivos, pensamentos e ideias auferimos que estamos sempre focados em propósito futuro, para amanhã, outra hora e condicionada em algo ali na frente. Para Buda, o problema é que você acha que tem tempo.
Por sua vez, Fernando Pessoa recorda-nos de que “o próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela. Para Aristóteles, a felicidade é o sentido e o propósito da vida, o único objetivo e a finalidade da existência humana. Viver o propósito é mais do que uma escolha, é um compromisso diário com o que traz sentido à sua existência. Seu propósito vive nos passos que você dá, todos os dias, em direção ao que deseja.
Um tradicional xote gaúcho sob a batuta da gaita do falecido entoa em seu refrão que quando morrer não quero grito e nem choro porque eu não quero que a tristeza vá comigo. Com as orações, boas lembranças, saudades e a memória particular de cada familiar e amigo o caminho de volta ao Pai torna-se luminoso, com os Anjos e Santos em cânticos de glória até o repouso na cidade Santa de Jerusalém.
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu“, registra o Livro dos Livros com palavras do Rei Salomão.
Jamais se arrependa por ter tentado ou ter feito. O arrependimento nunca é prejudicial, já o remorso pode ser. Devemos dar valor à tudo o que se encontra presente e ao nosso alcance, ainda que pareçam simples. Um dia serão tidos apenas como saudades. Até as palavras oportunas que não pronunciamos nos virão tardiamente à memória transformadas em lágrimas. Parafraseando um trecho da música da Marisa Monte, “deixa eu dizer que te amo, deixa eu pensar em você, isso me acalma, me acolhe a alma, isso me ajuda a viver”.
O misterioso fenômeno universal do ponto terminal e inevitável atinge-nos à todos. Aproveitar a vida não é apenas sobre a quantidade dos anos vividos, mas sim, sobre a qualidade e a marca deixada nos momentos em que nossos corpos e almas alinhados inspiraram, motivaram, e tornaram-nos lembranças inesquecíveis na memória de quantos conosco conviveram.
A vida é o presente, um sopro instantâneo onde não cabem as mágoas, ressentimentos e tristezas e devemos aproveitar cada instante com empatia e gratidão.
Reitero o conselho de Chico Xavier que instrui-nos afirmando que - gostaria de dizer para você que viva como quem sabe que vai morrer um dia, e que morra como quem soube viver direito -. Não passe a vida alegando não ter tempo para nada, pois, inesperadamente chegará a hora onde realmente esta afirmativa tornar-se-á realidade. Creia que aquele que parte terminou a sua tarefa e os que ficam talvez nem a tenham começado; e que se o fizemos por merecer, teremos o nome inscrito no Livro da Vida.
Espero um dia reencontrarmo-nos; e sugiro à todos a releitura da canção Epitáfio, do grupo musical Titãs.
- Amém!
GILMAR CARDOSO, advogado e poeta, associado ao Rotary Club de Curitiba e membro fundador da Cadeira 28 da Academia Brasileira Rotária de Letras – ABROL/PARANÁ.
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